terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Quem esquece o passado está condenado a repeti-lo

Uma OBRA-PRIMA sobre o "Internacionalismo Monetário".

A sua actualidade é tão evidente e flagrante… que é apenas necessário mudar alguns nomes.

NB:
O título foi retirado de um comentário publicado na 2ª parte do vídeo.


FMI
José Mário Branco





Queixa das almas jovens censuradas
José Mário Branco
poema de Natália Correia


Dão-nos um lírio e um canivete

 E uma alma para ir à escola

 Mais um letreiro que promete

 Raízes, hastes e corola

 

Dão-nos um mapa imaginário

 Que tem a forma de uma cidade

 Mais um relógio e um calendário

 Onde não vem a nossa idade

 

Dão-nos a honra de manequim

 Para dar corda à nossa ausência.

 Dão-nos um prémio de ser assim

 Sem pecado e sem inocência

 

Dão-nos um barco e um chapéu

 Para tirarmos o retrato

 Dão-nos bilhetes para o céu

 Levado à cena num teatro

 

Penteiam-nos os crânios ermos

 Com as cabeleiras das avós

 Para jamais nos parecermos

 Connosco quando estamos sós

 

Dão-nos um bolo que é a história

 Da nossa história sem enredo

 E não nos soa na memória

 Outra palavra para o medo

 

Temos fantasmas tão educados

 Que adormecemos no seu ombro

 Somos vazios despovoados

 De personagens de assombro

 

Dão-nos a capa do evangelho

 E um pacote de tabaco

 Dão-nos um pente e um espelho

 Pra pentearmos um macaco

 

Dão-nos um cravo preso à cabeça

 E uma cabeça presa à cintura

 Para que o corpo não pareça

 A forma da alma que o procura

 

Dão-nos um esquife feito de ferro

 Com embutidos de diamante

 Para organizar já o enterro

 Do nosso corpo mais adiante

 

Dão-nos um nome e um jornal

 Um avião e um violino

 Mas não nos dão o animal

 Que espeta os cornos no destino

 

Dão-nos marujos de papelão

 Com carimbo no passaporte

 Por isso a nossa dimensão

 Não é a vida, nem é a morte





nota final:
Faltas-nos… Natália!

Memória de Elefante I


A. C. Castel Branco Borges (vulgo António Borges) e L. M. Pizarro Beleza (vulgo Miguel Beleza).  Inflação em Portugal.  Medidas Governamentais, Expresso, 10 Março 1973.

As citações a azul foram cortadas pela censura, como se pode confirmar pela imagem.

fonte:
CASTANHEIRA, José Pedro. O Que a Censura Cortou. Expresso,  2ª edição, Lisboa, 2013.

 

 

[…] “em 1972 Portugal terá sido o País da Europa Ocidental onde foi maior a elevação do custo de vida. Não admira, pois, que se multipliquem os sinais de mal estar e alerta da opinião pública, nem que o Governo procure novas medidas de combate à alta dos preços.”

 

[…] “Não parece difícil aceitar que o Governo dispõe de meios capazes de assegurar uma política de condicionamento salarial: a legislação do trabalho, em particular no que respeita à contratação colectiva, confere ao Governo poderes mais do que suficientes; outros problemas mais graves se põem, quanto a esta medida: em primeiro lugar é de manifesta injustiça impor uma limitação de rendimentos apenas à classe social economicamente menos favorecida. Isto é, uma medida deste tipo teria que estar integrada numa política geral de rendimentos, que condicionasse igualmente a evolução dos rendimentos do capital. Tal política não parece estar nas intenções dos governantes.”